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Foto do escritorFabrício Girão

Crítica: Eternos apresenta trama épica, mas é só bom quando poderia ser excepcional

Filme de Chloé Zhao deslumbra com história que atravessa o séculos e reflete sobre os avanços da humanidade, mas nunca atinge seu potencial completo.

Divulgação/Marvel Studios

"Quando você ama uma coisa, você protege". A frase dita por Thena, presente no trailer de Eternos, diz muito sobre o filme. A história é, em sua essência, sobre a relação desses seres quase divinos com a humanidade, como vê-la evoluir e se modernizar de tão perto acaba mudando as percepções que eles têm sobre si mesmos.


Os Eternos chegaram à Terra há 7 mil anos. Imortais e poderosos, eles foram enviados pelos Celestiais (os verdadeiros deuses aqui) para livrar os humanos dos terríveis Deviantes, criaturas monstruosas com índole de predadores alfa. Apesar de testemunharem tragédias, guerras e outros conflitos ao longo de séculos de convívio com os humanos, os Eternos foram instruídos a não interferir em nada, a menos que os Deviantes estivessem envolvidos.



E é a partir daí que a brilhante diretora Chloé Zhao (Nomadland) começa a construir sua história. O principal conflito entre os Eternos é entre eles mesmos. Cada um é impactado de uma forma diferente pela vida na Terra, e cada um possui uma visão específica sobre a missão que lhes foi dada: alguns acreditando fielmente nela, e outros aprendendo novas perspectivas com os humanos.


De certa forma, Eternos entrega tudo que a Marvel prometeu. É uma história grandiosa que se desenrola através de séculos e de diferentes estágios de evolução da humanidade. Com habilidades diferentes dentro da equipe, cada cena de ação com o grupo se torna um entretenimento visual divertido, como o estúdio já está bem acostumado em fazer. Tudo isso é realçado pela direção precisa de Zhao, que em parceria com diretor de fotografia Ben Davis consegue extrair o melhor visual de cada uma das diferentes localidades em que o filme se passa.


Divulgação/Marvel Studios

Devagar e sempre


O modo com que Eternos resolve contar sua história, no entanto, com uma narrativa não-linear, causa um sério problema de ritmo que repercute até o final do filme. Há uma tentativa de justificar os acontecimentos do presente com eventos passados ainda desconhecidos pelo público, de forma a evidenciar a conexão direta entre eles. Mas essa quebra constante no clima construído faz com que o filme nunca decole de verdade.



Eternos é lento, especialmente no início. Apresentando dez novos personagens que o público desconhece até então, é natural que o filme tome um espaço maior de tempo para apresentá-los e fazer o espectador se importar com eles. Além disso, o longa precisa também explicar toda a relação com os Celestiais, a missão na Terra e os conflitos internos que os assombram. A solução seria encontrar o equilíbrio entre a exposição e o desenrolar da história, mas o primeiro elemento acaba por se sobressair, tornando o filme excessivamente expositivo.


Divulgação/Marvel Studios

Família disfuncional


Os Eternos funcionam como uma grande família sob a liderança espiritual de Ajak (Salma Hayek), a única com a habilidade de se comunicar com Arishem, o Celestial que os enviou em sua missão. Ikaris (Richard Madden) e Sersi (Gemma Chan) e sua complicada relação amorosa têm o maior destaque no filme, mas os outros heróis acabam sendo mais interessantes que eles. Gilgamesh (Don Lee) e Thena (Angelina Jolie) são exímios guerreiros, e a relação de cuidado entre eles é um destaque no filme.


Thena, inclusive, tem o melhor arco narrativo no filme. Ela lida com consequências de acontecimentos do passado e Angelina Jolie consegue transmitir todo o peso emocional que a personagem carrega. Sem falar que ela também está nas melhores cenas de ação, com seu combate rápido e com as armas que ela materializa com seus poderes.



Makkari (Lauren Ridloff), Kingo (Kumail Nanjiani) e Phastos (Brian Tyree Henry) também são ótimos personagens, e eles exemplificam as mais diferentes formas que os seres imortais se misturaram aos humanos. Além disso, eles trazem ainda mais representatividade ao panteão de heróis do MCU, provando que não há só um padrão específico para esses personagens.


Druig (Barry Keoghan) e Duende (Lia McHugh) também trazem dinâmicas importantes para o grupo. Com seu poder de controlar a mente dos humanos, Druig é muito favorável à intervenção direta nos conflitos deles. Já Duende, apesar de ter vivido milhares de anos, está presa no corpo de uma adolescente, o que gera frustração.


Divulgação/Marvel Studios

Poderia ser mais


Não é que Eternos seja ruim. Na verdade, o filme é muito mais interessante e superior que alguns desastres dentro do Universo Cinematográfico da Marvel, como o intragável Thor: O Mundo Sombrio. O problema com o filme é que ele parece nunca atingir todo o potencial de sua premissa cósmica. Com muito tempo tomado pela exposição inicial e pela preparação para o conflito central, e com as constantes interrupções para fazer ligações com os eventos do passado, o terceiro ato passa a sensação de não ser tão grandioso quanto a construção feita prometia. Ainda assim, Eternos possui todos os elementos de ação e aventura para agradar os fãs do MCU.



Eternos


Ano: 2021

Direção: Chloé Zhao

Elenco: Gemma Chan, Richard Madden, Kumail Nanjiani, Lia McHugh, Brian Tyree Henry, Lauren Ridloff, Barry Keoghan, Don Lee, Salma Hayek e Angelina Jolie.


Mesmo com ótimos personagens e uma história ambiciosa, o ritmo irregular de Eternos o impede de ser tão incrível quanto sua premissa.


Nota: 3.5/5



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