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Foto do escritorFabrício Girão

Em Lightyear, Pixar esbanja todo o seu poder visual e narrativo

Nova animação traz Buzz Lightyear como um explorador espacial em uma aventura épica que combina visuais incríveis e uma trama bastante madura.

Divulgação/Pixar Animation Studios

O ano era 1995, Andy ganhou um boneco do Patrulheiro Espacial Buzz Lightyear de aniversário e assim teve início a saga dos brinquedos mais amados do cinema. Mas porque o Andy estava tão empolgado em ganhar o boneco? O que no Patrulheiro Espacial com traje branco, verde e roxo fazia dele um personagem tão interessante?



Foi a partir desses questionamentos que o diretor Angus MacLane, veterano da Pixar e referência como animador do Buzz na franquia Toy Story, sugeriu ao estúdio produzir um filme que serviria como a história definitiva de Buzz Lightyear, um filme que o próprio Andy teria assistido e amado. Assim nasceu Lightyear, filme animado que estreia nos cinemas brasileiros nesta semana.


Depois de entregar quatro filmes originais em sequência (Dois Irmãos, Soul, Luca e Red), a Pixar volta a explorar suas franquias trabalhando um de seus personagens mais conhecidos, mas dando a ele uma história original que combina um visual extremamente detalhado com uma das tramas mais maduras que o estúdio já apresentou.


Divulgação/Pixar Animation Studios

Potência visual


Nas palavras do próprio Angus MacLane, Lightyear é inspirado nos filmes de ficção científica produzidos entre 1977 e 1991, especialmente os de aventura espacial como Star Wars. Essa influência fica muito clara durante todo o filme, seja na abordagem retrofuturista do design de produção e nas diferentes tecnologias mostradas no filme, nas intensas cenas de alta velocidade à bordo das naves ou no tom aventureiro e de exploração de Lightyear.


Depois de brincar um pouco com as possibilidades de um visual mais estilizado em suas animações, como vimos com Red: Crescer é uma Fera e Luca, a Pixar volta ao hiper-realismo em Lightyear, e aqui ele vem acompanhado de um trabalho muito robusto de fotografia, com a composição constante de quadros criativos e que utilizam bem os belos cenários, e de iluminação, chamando a atenção sempre que joga com luz e sombra e pelos detalhes perfeitos de reflexos e outros efeitos.



Lightyear é um filme muito bonito, visualmente falando, e não só porque segue essa tendência de trazer uma animação tão realista que pareça real, mas porque a atenção dele à técnica coloca a Pixar em um degrau acima de outros trabalhos do estúdio, o que é um feito em tanto. Se em Toy Story 4 a iluminação e o bom uso da câmera já se destacavam, na aventura de Buzz Lightyear o trabalho nesses componentes parece ainda mais refinado.


Sendo um filme de aventura, esse visual arrojado é acompanhado de ótimas cenas de ação, que usam bem os elementos da ficção científica estabelecidos nesse universo, sejam as naves que alcançam a hipervelocidade, as armas lasers que ajudam a combater os cipós invasores e os insetos gigantes, ou o misterioso exército de robôs ameaçadores comandado pelo igualmente misterioso Zurg.


Divulgação/Pixar Animation Studios

Viagem interestelar


Se no visual Lightyear é um triunfo, na narrativa o filme também não deixa a desejar. Sem entrar em muitos detalhes, a animação mostra Buzz cometendo um grande erro que deixa ele e toda a tripulação de sua nave de exploração espacial, o Legume, presos em um planeta hostil. Para reverter o erro, ele precisa pilotar naves experimentais em testes de voo em hipervelocidade que o fazem experimentar dilatação temporal: enquanto para ele o voo durou apenas alguns minutos, para todos no planeta passaram-se anos.


A partir daí se constrói uma trama bastante madura sobre o peso de erros do passado, e a dificuldade em aceitá-los e seguir em frente. E o que faz essa narrativa funcionar tão bem é como ela é explorada não só no arco narrativo do Buzz, mas também no de outra personagem central para o núcleo emocional do filme: Alisha Hawthorne.



Alisha também é Patrulheira Espacial e é a melhor amiga de Buzz. No novo cenário de incerteza que eles se encontram, ela representa o oposto do Capitão Lightyear e cria uma dinâmica com ele que ecoa em todo o filme. Alisha simboliza o seguir em frente, aceitar as condições que os cercam e tentar viver da forma mais plena possível. Buzz não consegue fazer e nem entender isso. Para ele, tentar reparar o erro deve ser sempre o principal foco.


A Comandante Alisha Hawthorne também representa um marco não só para Pixar, mas para toda a animação mainstream produzida pelos grandes estúdios. Ela é uma mulher negra e LGBTQIA+ em posição de destaque e com grande importância dentro da narrativa. Que tem a vida de sua família retratada de forma simples, natural e muito bonita, ainda que não seja ela a protagonista da história.


Divulgação/Pixar Animation Studios

Patrulheiros no coração


Lightyear também deve ganhar o público com seus personagens coadjuvantes, especialmente o trio de recrutas a quem Buzz se alia durante sua missão. Izzy Hawthorne, Mo Morrison e Darby Steel são carismáticos por natureza e, enquanto os dois últimos ficam com a parte mais cômica do roteiro do filme, Izzy tem uma jornada de crescimento pessoal ao longo da trama.


Eles são fáceis de gostar logo de cara, dada a facilidade que a Pixar tem de estabelecer personagens e suas características principais. Mas quem rouba a cena durante todo o filme, e não de forma excessiva a perder a graça, é Sox, o gato robô. Ele foi designado como companheiro de Buzz em suas missões e tem as melhores tiradas cômicas com seu humor afiado. Promete ser o queridinho de muita gente.


Não tem como existir Buzz Lightyear sem Zurg, e nesse novo longa o vilão está mais ameaçador que nunca. A equipe do filme optou por um design mais mecanizado e mais assutador, dando a ele proporções gigantescas e todo um exército a seu dispor. Zurg esconde alguns segredos e seus planos não são muito claros em um primeiro momento, mas suas interações e embates com Buzz são alguns dos melhores momentos do filme.


Divulgação/Pixar Animation Studios

Ao infinito e além


Lightyear não é exatamente o filme mais original ou inventivo da Pixar, mas ele faz muito bem tudo o que se propõe a fazer e a ser: uma aventura espacial com forte influência dos clássicos da ficção científica, com uma fotografia de tirar o fôlego, cenas de ação muito bem animadas, personagens cujo carisma transborda na tela e uma mensagem forte sobre reparação de erros e fazer as pazes com o passado e o presente.




Lightyear

Ano: 2022

Direção: Angus MacLane

Elenco: Chris Evans, Uzo Aduba, Keke Palmer, Taika Waititi, Dale Soules e James Brolin.


A Pixar entrega em Lightyear uma aventura espacial de visual espetacular, acompanhada de uma trama madura e bem explorada, digna do melhor Patrulheiro Espacial.



Nota: 4/5


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