Nova reimaginação da Disney conta a história do boneco de madeira sem muita novidade, mas recria atmosfera cativante e mágica da animação.
De certa forma, Pinóquio marca uma nova era de lançamentos para a Disney. Sim, o estúdio segue readaptando suas animações em versões live-action, mas o que antes eram lançamentos certos para as salas de cinema, agora são produções que estreiam exclusivamente no Disney Plus. Pinóquio não é o primeiro, claro, antes dele vieram A Dama e o Vagabundo, Mulan e Cruella, esses dois últimos lançados no streaming em razão da pandemia (ainda que Cruella tenha estreado também nos cinemas).
Enquanto o streaming se coloca como mais uma opção para levar esses filmes ao mundo, o estúdio parece ainda não ter encontrado o tom certo para essa coleção de remakes em live-action que sempre oscilam entre serem adaptações muito fiéis das animações, reproduzindo tal e qual cenas inteiras, ou serem produções que traçam novos caminhos a partir das histórias já conhecidas.
Pinóquio, que estreia nesta quinta como parte do Disney Plus Day, faz parte do primeiro grupo. É uma adaptação fiel da animação de 1940, seguindo a mesma estrutura da história enquanto adiciona alguns poucos elementos novos. A decisão de jogar de forma segura é algo bom e ruim para o filme, uma vez que mudar demais uma história tão conhecida poderia causar rejeição de parte do público, ao mesmo tempo que há um senso quase nulo de novidade durante as quase duas horas de duração.
No fim das contas, Pinóquio se sai bem porque é capaz de reproduzir a atmosfera de magia e ternura presente muito fortemente na animação. Seja no aconchego da oficina do Gepeto ou no deslumbre da Ilha dos Prazeres, o filme cativa com o carisma do protagonista e entretém com as etapas de sua jornada para se tornar menino de verdade.
O que há de novo?
Como dito acima, poucas novidades são apresentadas no live-action de Pinóquio. A história como um todo é exatamente a mesma da animação, desde o início com a criação do boneco de madeira até o clímax com a Monstro, passando pelo encontro com João Honesto e Gideão, pelo show do terrível Stromboli e pela Ilha dos Prazeres. As novidades ficam por conta de três novas personagens: Fabiana, sua marionete Sabina e a gaivota Sofia.
Ainda que alterem algumas das cenas e situações que vemos no desenho, nenhuma das três traz algo significativamente novo para o filme. Nesse sentido, o live-action deve agradar aqueles que esperam que essas adaptações se atenham ao máximo a história contada no desenho, de forma que funcione apenas como uma nova visita a um lugar bem conhecido.
Pinóquio também conta com 4 canções inéditas em sua trilha sonora, compostas pela dupla Alan Silvestri e Glen Ballard. É uma pena que todas elas sejam extremamente esquecíveis, e que ainda sejam mal utilizadas durante o filme. Com exceção da música do Cocheiro, que aproveita os talentos de Luke Evans, nenhuma das outras ganha muito espaço para se destacar.
Onde Pinóquio brilha
Várias cenas de Pinóquio me fizeram pensar no quanto eu gostaria de estar vendo esse filme nos cinemas. Isso porque, mesmo que apresente alguns deslizes nos efeitos visuais, o live-action tem um visual muito sólido, que brinca com o tom mais sombrio presente na animação ao mesmo tempo que cria um cenário de "conto de fadas real".
O filme também faz um excelente uso do Grilo Falante, com cenas que mostram os cenários da perspectiva minúscula dele. O próprio Pinóquio, feito inteiramente de computação gráfica, simula bem um boneco de madeira e não destoa do restante do filme, interagindo bem com os personagens e com os elementos em cena. Para que o filme funcionasse, o visual dele precisava funcionar, e a escolha de transpor o estilo cartunesco da animação foi bem acertada.
Toda a sequência na Ilha dos Prazeres também é um grande destaque do filme. Aqui, eles reproduzem com primor não só o aspecto deslumbrante e atraente do local, mas também o ar meio aterrorizante da ilha, tão misteriosa quanto convidativa. Esse é um exemplo do que talvez seja o maior acerto dessa versão em live-action: a capacidade de recriar o tom doce e mágico da animação, mesmo com personagens de carne e osso (ou de madeira).
Por fim, o elenco dá o verdadeiro brilho a essa adaptação. Cada um casa perfeitamente com seu personagem, desde Tom Hanks com o coração gigante de Gepeto, Cynthia Erivo com a elegância da Fada Azul (When You Wish Upon a Star na voz dela é de arrepiar), Keegan Michael-Key na voz do esperto João Honesto, Joseph Gordon-Levitt como o carismático Grilo Falante e Benjamin Evan-Ainsworth com toda a inocência do Pinóquio. Esse talvez seja um dos melhores elencos entre os remakes da Disney.
Não há cordões em mim
Pinóquio não é um live-action que traz grandes mudanças em relação à versão animada. Ainda que apresente alguns novos elementos, eles não se destacam em meio aos que já são consagrados na história clássica. Ainda assim, o elenco muito bem escalado e o visual consistente fazem essa reimaginação reproduzir a atmosfera aconchegante e mágica da animação, e isso pode ser o bastante.
Pinóquio
Ano: 2022
Direção: Robert Zemeckis
Elenco: Tom Hanks, Benjamin Evan Ainsworth, Cynthia Erivo, Joseph Gordon-Levitt, Luke Evans, Keegan Michael-Key e Lorraine Bracco.
Pinóquio não se arrisca ao recontar história clássica, mas conjura alguns dos melhores elementos da animação para cativar o público mais uma vez.
Nota: 3/5
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