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Foto do escritorFabrício Girão

Mulan (2020) - Crítica

Em mais uma reimaginação em live-action, Disney abandona o copia e cola e dá espaço para uma nova construção da guerreira chinesa.

Divulgação/Walt Disney Studios

Em nenhum momento dos 115 minutos de duração de Mulan, o Mushu faz qualquer falta. O filme enfrentou uma onda de comentários negativos antes mesmo da estreia, em sua maioria vindos dos próprios fãs, quando foi anunciado que o live-action não teria nem as músicas, nem o amado parceiro de Mulan da animação. Mas essas liberdades criativas em relação ao material original são justamente alguns melhores pontos desse novo filme.


A história é basicamente a mesma: uma jovem de uma família tradicional da China se disfarça de homem para servir na guerra no lugar de seu adoecido pai. Só que logo no início do filme, a diretora Niki Caro mostra que não vai se limitar a copiar toda a estrutura da animação e estabelece um diferencial para sua Mulan: ela sempre teve aptidão para ser uma guerreira, mas escondeu suas habilidades porque esse não era o papel que a comunidade esperava que ela cumprisse enquanto mulher.


"Niki Caro mostra que não vai se limitar a copiar toda a estrutura da animação e estabelece um diferencial para sua Mulan: ela sempre teve aptidão para ser uma guerreira".


A partir dessa escolha, todo o tom do filme é estabelecido. Enquanto na animação vemos Mulan se descobrindo guerreira, no live-action temos a protagonista lutando por um espaço para poder afirmar quem sempre foi. Com essa nova perspectiva, o filme afasta a ideia de ser só uma reapresentação de uma história conhecida.


Outra mudança acertada é a divisão do Shang em dois personagens: Chen Honghui (Yoson An) e Comandante Tung (Donnie Yen). Dividindo o personagem, o filme é capaz de estabelecer uma relação de mestre e aprendiz entre Mulan e o Comandante sem que isso resulte no desenvolvimento de um relacionamento amoroso entre os dois. Ao delegar esse papel de "par" ao soldado Honghui, ele aproxima a protagonista de um personagem um pouco mais parecido com ela e que está mais perto dela na maior parte do tempo.


Da esquerda para a direita: Chen Honghui, Mulan e Comandante Tung (Divulgação/Walt Disney Studios)

Os novos vilões


Sai Shan Yu, entram Bori Khan (Jason Scott Lee) e Xianniang (Gong Li). Bori Khan é quase o vilão da animação, só que com o passado um pouco melhor explorado, mas nada que o coloque como um antagonista muito memorável (assim como sua versão no desenho). O verdadeiro destaque nessa dupla de vilões é a bruxa transmorfa interpretada com maestria por Gong Li, que tem uma presença invejável em todas as cenas que aparece.


Sem revelar muitos detalhes da trama, Xianniang representa uma versão do que Mulan poderia ter se tornado, já que ela também possui habilidades que os outros não compreendem. A diferença fundamental entre as duas é que a mais velha não aceitou esconder esses poderes e paga o preço que for para ser livre.


Gong Li como Xianniang (Divulgação/Walt Disney Studios)

Produção técnica que impressiona, mas que escorrega


Mulan tem um cuidado com o visual que está acima da média dos demais filmes em live-action da Disney. A fotografia é cuidadosamente pensada para valorizar as locações reais e cenários construídos para o filme. A Disney não economizou nessa construção, inclusive, e o design de produção e direção de arte de Mulan estão entre os mais refinados desde Cinderela (2015).


O figurino também é destaque positivo. Assinado por Bina Daigeler, os detalhes impressionam no visual dos personagens de todos os núcleos da trama, desde a vila de Mulan até a cidade imperial.


Mulan tem um cuidado com o visual que está acima da média dos demais filmes em live-action da Disney.

Só que o filme deixa a desejar logo em um dos elementos principais: os efeitos visuais. Ainda que apresente boas coreografias e cenas de ação empolgantes, a qualidade dos efeitos e alguns movimentos de câmera resultam em cenas que parecem inacabadas, como se a pós-produção não tivesse sido finalizada.


A estrela


Liu Yifei é uma força. Ela consegue capturar os dois lados de Mulan: o que é calma e atenciosa e o que é destemida e independente. A interpretação dela confere à personagem emoção ou imponência quando necessário, além de trazer um pouco do aspecto atrapalhado presente na Mulan da animação.


A companheira dela é uma fênix, mas que possui um papel bem menor que o esperado, sendo uma figura mais distante. Entretanto, nem assim a falta do Mushu foi sentida. A história opta por não utilizar esses elementos e focar na jornada individual da guerreira.



Mulan respeita a animação original ao mesmo tempo que traz suas próprias visões sobre essa personagem icônica. Ele ainda sinaliza que a Disney pode ter encontrado o equilíbrio perfeito entre recontar as histórias e apresentar novos elementos, mas o filme provavelmente não será lembrado como tal porque muitos fãs torceram o nariz sem ao menos dar uma chance e as polêmicas eclipsaram o lançamento mundial.


Divulgação/Walt Disney Studios

Mulan


Ano: 2020

Direção: Nicki Caro

Elenco: Liu Yifei, Donnie Yen, Gong Li, Jet Li, Jason Scott Lee, Yoson An e Tzi Ma.


A Disney parece ter entendido o que faz os remakes funcionarem melhor: a reimaginação no lugar da simples cópia. Com um trabalho técnico cuidadoso, uma protagonista empenhada e adições que enriquecem a história, Mulan se posiciona entre os melhores live-actions do estúdio.


Nota: 4/5


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