Novo filme do Disney Plus satiriza a preferência dos estúdios por sequências ou remakes que apelam para a nostalgia, sendo exatamente um deles.
Tico e Teco são personagens reais, vivendo na Los Angeles moderna que abriga humanos e personagens de desenhos animados. Eles estrelaram a famosa série Defensores da Lei nos anos 1990, mas seguiram caminhos diferentes na vida depois de um desentendimento e do fim da produção. Quando personagens animados começam a ser sequestrados, eles conseguirão por as diferenças de lado para solucionar o mistério?
Quais as chances de um filme com essa premissa dar errado? Muitas. Mas Tico e Teco: Defensores da Lei, que estreia nesta sexta-feira no Disney Plus, justifica sua história absurda com uma ótima sátira ao estado atual do cinema hollywoodiano, que prioriza sequências, remakes, filmes derivados e todas as outras formas de explorar franquias já existentes (ao mesmo tempo em que é exatamente esse tipo de produção).
Logo de cara, é um filme muito engraçado. O humor às vezes nonsense, às vezes criticamente afiado característico do The Lonely Island, incorporado na figura do diretor Akiva Schaffer, é muito presente durante todo o filme, e encaixa muito bem com a entrega certeira de John Mulaney e Andy Samberg como Tico e Teco, respectivamente. Eles trazem o dinamismo já conhecido da dupla de esquilos ao mesmo tempo que acrescentam um pouco mais de seriedade à personalidade dos dois.
A trama do filme é bem direta e previsível de certa forma, com algumas poucas surpresas em seu desenrolar, mas o que torna Tico e Teco: Defensores da Lei interessante é como ele brinca com diversas propriedades intelectuais conhecidas, sejam da Disney ou não, alternando entre o celebrar e o zoar muito com elas.
Animação em apuros
Seguindo a proposta de ser um filme que mistura live-action e animação, e cuja própria trama aborda o desaparecimento de personagens animados, Tico e Teco: Defensores da Lei apresenta diferentes estilos de animação de forma a ilustrar como a técnica mudou ao longo dos anos. Só que o próprio Teco é uma crítica ambulante aos efeitos dessa "modernização": ele fez uma cirurgia para se tornar um personagem em 3D, algo que seria "mais avançado, mais popular".
A animação do Teco é, inclusive, muito bem feita. A textura é bem aplicada e ele interage de forma muito natural com os cenários reais. Já o Tico e outros personagens com papel importante no filme tem um visual muito irregular, isso porque o estúdio optou por modelá-los e animá-los em 3D e simular um efeito de animação tradicional, colocando linhas de contorno, por exemplo. O resultado é um visual que não passa bem como 3D e nem como 2D, causando um incômodo que distrai muito.
Alguns personagens realmente animados em 2D são apresentados ao longo do filme, mas eles tem participação muito mais discreta em cenas rápidas. É uma pena que um filme que de certa forma celebra esse tipo de arte dê tão pouco destaque à animação tradicional propriamente dita.
Maluquice cômica
Como comentado brevemente no começo do texto, é impressionante a liberdade criativa que Tico e Teco: Defensores da Lei tem para referenciar e zoar não só personagens e propriedades intelectuais da Disney, mas também de outros estúdios. Prestar atenção nos cenários repletos de easter eggs e pequenas referências vira quase que uma experiência à parte ao assistir ao filme. Mas é como a produção usa esse grande crossover como ponto de partida para criticar as produções atuais de Hollywood que faz tudo valer a pena.
É óbvio que o próprio Tico e Teco: Defensores da Lei preenche todos os requisitos do tipo de filme que os estúdios tem preferido produzir hoje. É baseado em uma franquia já conhecida e apela para a nostalgia de quem cresceu assistindo a série animada nos anos 1990. O filme tem consciência disso, e usa a narrativa para criticar reboots, sequências, spin-offs e tudo mais, e é justamente aqui que ele tem suas piadas mais ácidas, e algumas das mais engraçadas.
O longa nunca pesa a mão na discussão, a um ponto de se colocar como superior em relação a outras produções com o mesmo fim. Na realidade, ele ri de toda a situação a partir do momento em que primeiro ri de si mesmo. Ninguém está a salvo de ser foco de uma piadinha, nem os próprios Tico e Teco.
Aventura Absurda
A verdade é que Tico e Teco: Defensores da Lei tinha tudo para não funcionar. A proposta muito autorreferente da narrativa e o excesso caótico de elementos jogavam conta a produção, que felizmente encontra sua força em um roteiro afiado e nas atuações de voz excelentes de Andy Samberg, John Mulaney, J.K. Simmons, Will Arnett e outros membros do elenco.
Destaque também para a muito simpática KiKi Layne, que tem um papel complicado sendo a única humana no meio de tantos personagens animados, mas que se sai muito bem como Ellie, com um carisma presente em todas as cenas e com um dinamismo interessante com os desenhos. Talento pra ficar de olho.
Tico e Teco: Defensores da Lei é uma aventura tão absurda quanto é divertida. O filme do Disney Plus faz rir com facilidade e é uma homenagem aos amados personagens de desenhos animados, sejam eles 2D ou 3D.
Tico e Teco: Defensores da Lei
Ano: 2022
Direção: Akiva Schaffer
Elenco: John Mulaney, Andy Samberg, KiKi Layne, Will Arnett, J.K. Simmons e Seth Rogen.
Entregando uma aventura que satiriza tudo que Hollywood ama, Tico e Teco: Defensores da Lei é o filme mais maluco e divertido do ano.
Nota: 4/5