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Foto do escritorFabrício Girão

Wish combina o clássico e o moderno para ir além da homenagem - Crítica do Almanaque Disney

Filme que celebra os 100 anos da Walt Disney Animation Studios honra o legado do estúdio em aventura inspiradora sobre lutar pela verdade.


Estrela e Asha em cena de Wish: O Poder dos Desejos
Divulgação/Disney Animation

Quando Wish: O Poder dos Desejos foi anunciado em setembro do ano passado na D23 Expo, criou-se um misto de empolgação e curiosidade em volta do filme por ser promovido como o projeto ambicioso que celebraria os 100 anos da Walt Disney Animation Studios, reunindo o trio responsável pelo sucesso Frozen: Chris Buck na direção, Jennifer Lee no roteiro e Peter Del Vecho na produção. A eles, se juntaram também como diretora Fawn Veerasunthorn (Raya e o Último Dragão) e Juan Pablo Reyes (Encanto) na produção.


Wish é, essencialmente, exatamente tudo que se imagina quando se pensa em um filme da Disney. A animação é uma aventura musical que se passa em um reino mágico, e que traz uma mensagem muito forte sobre lutar pela verdade e os desafios de se ter um sonho. No centro da história, Asha (voz original de Ariana DeBose) faz um desejo tão poderoso com o intuito de ajudar o Reino de Rosas contra o manipulador Rei Magnífico (voz original de Chris Pine) que puxa uma estrela do céu. É um filme que diverte e que empolga, que emociona e que faz rir. Com personagens maravilhosos e músicas excelentes, não deixa nada a desejar em relação aos grandes sucessos do estúdio.



No momento em que o filme começa, com uma abertura que vai deixar os fãs da Disney Animation muito contentes, a parte da comemoração aos 100 anos já fica bem óbvia. Mas Wish vai além homenagem ao mesclar os elementos que consagraram os clássicos da Disney Animation com o estilo de narrativa musical mais moderno do estúdio. É um casamento que parece improvável, mas que acaba por ser a maior força do filme.


Junto a isso se soma o visual CG estilizado que se inspira nas ilustrações de livros infantis, com aquarelas nos cenários, textura de papel e linhas de contorno nos personagens e ambientes, que criam um aspecto de pintura em cada frame. O nível de detalhe é tamanho, perceptível na tela do cinema, que em algumas cenas parecem as de uma animação 2D.


Asha e Valentino em cena de Wish: O Poder dos Desejos
Divulgação/Disney Animation

Em Rosas a vida é fantástica e mágica

Para narrar a jornada de Asha em busca de justiça para os habitantes de Rosas, que não fazem ideia de que Magnífico não é tão bom quanto diz ser, o roteiro assinado por Jennifer Lee e Allison Moore conjura a ambientação de contos de fadas. Rosas é um reino medieval localizado em uma ilha com um castelo imponente, uma bela costa e uma densa floresta.


Esse é o principal elemento que simboliza o passado do estúdio aqui. Mas a abordagem da narrativa, sobretudo com as músicas, segue a tendência atual nos moldes de Encanto e Moana. As canções compostas por Julia Michaels, compositora mais jovem a escrever músicas para um filme da Disney, preenchem certos moldes estabelecidos pelo estúdio ao mesmo tempo que subvertem completamente as expectativas, oferecendo algo novo.



Asha tem uma grande "I Want Song", sendo This Wish um dos momentos mais marcantes do filme. A cena é belíssima. Em toda a trilha, é a canção que "mais Disney", por assim dizer. O filme também conta com as tradicionais "música de boas-vindas", com Welcome to Rosas, e "música do vilão", com This Is The Thanks I Get?!. Essa última, por exemplo, se afasta completamente do ar teatral esperado músicas dos vilões da Disney, dando a Magnífico um desabafo pop. A canção ainda é eficaz em mostrar o vilão como engraçado e ameaçador, mas faz isso de uma forma nova.


I'm a Star é divertida e mais profunda do que aparenta e Knowing What I Know Now é a mais empolgante, mas At All Costs, dueto entre Asha e Magnífico, é uma das composições mais bonitas na história recente da Disney. Sem entrar em spoilers, ela mostra a protagonista e o vilão em completa sintonia, ainda que por motivos totalmente diferentes. É tematicamente ousada, com uma dinâmica nova para a Disney Animation.


E nisso Wish encontra sua força e seu diferencial. A Disney Animation se volta para os contos de fadas, para os reinos mágicos, traz de volta a figura do vilão ameaçador e os insere em um tipo diferente de história, mais próxima da narrativa de seus filmes contemporâneos.


Rei Magnífico em cena de Wish: O Poder dos Desejos
Divulgação/Disney Animation

Peça à estrela aquilo que você sonhou

Assim como os recentes Raya e o Último Dragão e Encanto, a premissa de Wish: O Poder dos Desejos é simples e a história não busca reiventar a roda, mas a forma eficiente como ela é contada ressalta o impacto emocional da jornada dos personagens em um bom trabalho. Você compreende as motivações de Asha e engaja em sua luta.


Falando nela, a Asha te ganha do momento em que ela abre a boca pela primeira vez, mas especialmente quando ela canta com a voz potente da DeBose. Ela tem a vibe desajeitada e atrapalhada da Anna, da Rapunzel e da Mirabel, mas é tão amável e tão sincera que rapidamente se cria uma conexão com as preocupações dela. E essas preocupações tem título e nome: Rei Magnífico.


Magnífico é o feiticeiro soberano que criou Rosas após uma tragédia pessoal e que afirma proteger os grandes desejos de seus súditos, para que eles não tenham que viver uma vida com o fardo de sonhos que podem não se realizar, prometendo ele mesmo que vai realizá-los um dia, com ajuda da magia.



O rei é o vilão que há anos não aparece nos filmes da Disney Animation e é um retorno excepcional desse tipo de personagem. Magnífico é maligno, manipulador, mentiroso, arrogante e extremamente narcisista. Ele caminha naquela linha bem tênue entre o charme e a ameaça, ora fazendo rir e ora metendo medo, assim como os melhores vilões do estúdio. E, em mais um acerto, Wish dá ao público a rara oportunidade de vê-lo se fazer vilão, à medida que ele vê seu status e poder ameaçados por Asha.


O bode Valentino garante algumas risadas, ainda que o roteiro entregue a ele algumas das piores piadas, enquanto a Estrela é simplesmente o ser mais fofo já visto. Ela é um misto de inocência e determinação, como uma criança curiosa, representando para Asha a esperança e a possibilidade de provocar mudanças em Rosas. O visual e a movimentação dela são tão fluidos que ela parece ter sido desenhada e animada à mão, apesar de ser na verdade um personagem CG.


Asha e Rei Magnífico em cena de Wish: O Poder dos Desejos
Divulgação/Disney Animation

Colorido com as cores do vento

Os trailers comprimidos nas redes sociais e no Youtube não chegam nem perto de fazer justiça ao visual rico de Wish, que é exuberante e encantador, especialmente nas cenas ambientadas na floresta, onde os detalhes em 2D nas folhas das árvores e arbustos conseguem recriar quase que com perfeição a estética das primeiras animações da Disney Animation.


Nas cenas em que o céu se destaca, seja a noite estrelada ou o dia com nuvens, os cenários feitos com aquarelas criam composições que parecem pinturas e que aliados ao acabamento das linhas resultam em um visual único para o filme. Assim como a ambientação clássica se soma a abordagem musical moderna, o estilo visual de Wish traz com força o passado para dentro atual CG da Disney.


A estilização visual acompanha a proposta do filme, não sendo um mero recurso utilizado só por dizer. Assim como os recentes filmes do Aranhaverso personalizam o CG para emular a estética dos quadrinhos, Wish recria o visual de um livro de contos de fadas, forte inspiração na estética dos primeiros filmes animados da Disney.


Asha, Estrela e Valentino em cena de Wish: O Poder dos Desejos
Divulgação/Disney Animation

É como um sonho que se realiza

Os fãs mais dedicados vão sorrir e celebrar com a quantidade de referências e easter eggs que aparecem ao longo de Wish: O Poder dos Desejos, variando dos mais discretos aos muito óbvios. Mas, desde o primeiro momento, o filme entende que precisa ir além da celebração do passado e entrega uma história envolvente sobre lutar pelo bem comum e pela verdade.



No ano em que celebra 100 anos, a Walt Disney Animation Studios se volta para as estrelas para falar sobre o que significa poder sonhar e realizar, e como esses desejos moldam muito de quem somos. Como seus grandes clássicos, Wish é apaixonante, arrepiante e, claro, muito mágico.


Pôster oficial de Wish: O Poder dos Desejos

Wish: O Poder dos Desejos

Ano: 2023

Direção: Chris Buck e Fawn Veerasunthorn

Elenco: Ariana DeBose, Chris Pine, Alan Tudyk, Angelique Cabral e Jennifer Kumiyama.


Wish reúne os elementos que consagram 100 anos de histórias Disney em conto de fadas musical poderoso sobre sonhar, lutar e realizar.


Nota: 5/5

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